![]() |
Ninguém entra no mesmo rio duas vezes, pois quando isso acontece, já não é mais o mesmo rio, no momento seguinte as águas não serão as mesmas. Foi um filósofo grego, que viveu no século quinto antes de Cristo, Heráclito de Éfeso que fez essa formulação que até hoje nos fascina. O fluxo eterno das coisas que é a própria essência do mundo apontou Heráclito e se ainda hoje ficamos espantados com isso, é porque nos apegamos teimosamente ao que já passou, esperando no fundo que tudo permaneça igual. Então é necessário um filósofo da antiguidade ou um escritor contemporâneo para nos fazer entender que nada é permanente a não ser a mudança.
Devir
em filosofia é o mesmo que movimento permanente das coisas que se
desfazem, transformando-se em outras coisas. O mundo explica-se, não
apesar das mudanças de seus aspectos muitas vezes contraditórios, mas
exatamente por causa dessas mudanças e contradições. Quer dizer que
todas as coisas opõem-se umas às outras, e dessa tensão resulta a
unidade do mundo. Para Heráclito a harmonia nasce da própria oposição. A
divergência e a contradição não só produzem a unidade do mundo, mas
também sua transformação. O mundo é um fluxo contínuo de mudanças, o
mundo é como um fogo eterno sempre vivo, e "nenhum deus, nenhum homem o
fez". Heráclito concebia
a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação.
Para ele, a vida é um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças
contrárias. Assim afirmava que "a luta ou os conflitos eram a mãe,
rainha e princípio de todas as coisas". É pela luta das forças opostas
que o mundo se modifica e evolui.
Entretanto,
para melhor entendermos, cito Guimarães Rosa no Grande Sertão Veredas
em que escreveu o seguinte: “o mais importante e bonito do mundo é isso,
que as pessoas não são sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas
que elas vão sempre mudando, afinam ou desafinam, verdade maior é o que a
vida me ensinou”. O incrível que o filósofo flagra a fluidez e o
escritor se maravilha com isso. É o mais bonito da vida diz Guimarães
Rosa. É uma celebração do movimento, não é um lamento.
É
no amor líquido que vamos perceber essa fragilidade, essa dificuldade
de se perpetuar os vínculos amorosos no mundo de hoje. Eterno em
constante mudança, o amor é dos deuses mais antigos, a maior potência do
universo. Conciliar a permanência de Parmênides onde ele afirma que “o
Ser é” e “o não Ser não é” (nossa próxima reflexão) e a mudança de
Heráclito onde tudo flui. O que não nos surpreende é, se considerarmos
que sua excelência o Amor existe para Unir as pessoas, é justamente essa sua função. Mas como tudo na vida é um eterno fluir nada permanece, então, como fica o Amor?
Portanto
o tempo não para e isso é belo. Todavia, estamos sempre em constante
encontro um com o outro, seja por aqui ou por aí, e seremos a cada
encontro, sempre outra pessoa, nunca a mesma. Concluo com uma frase
nobre de Martim Luther King prêmio Nobel da Paz: “Não somos o que
deveríamos ser; não somos o que queríamos ser; não somos o que iremos
ser; mas, graças a Deus, não somos o que éramos”.
Fonte: Eduardo Morais